A Pessoa e Obra do Espírito Santo (259)
6.4.3. As Marcas da Igreja (Continuação)
Sentido da palavra “marcas”
Turretini (1623-1687 conceituando “marcas”, escreve: “Por marcas comumente se entendem certos sinais externos que atingem os sentidos e pelos quais alcançamos o conhecimento da coisa oculta”. Esclarece que as marcas tratadas nesta questão são aquelas que “indicam a coisa investigada, certa e infalivelmente: como fumaça, fogo; respiração, vida; porque são tomadas da essência da coisa ou de suas propriedades inseparáveis”.[1]
Apenas em caráter indicativo, apresentaremos um esboço histórico da preocupação da Igreja em estabelecer os “Sinais” ou “Marcas” por meio dos quais, a Igreja de Cristo pudesse ser identificada e distinta das falsas igrejas.
No Credo Apostólico,[2] lemos: “Creio no Espírito Santo; na santa Igreja, católica; na comunhão dos santos….”. Aqui se destacam duas marcas da Igreja: Santidade e Catolicidade (= Universalidade).
O Credo Niceno-Constantinopolitano, elaborado no Concílio de Nicéia (325) e revisto no Concílio de Constantinopla (381), diz: “(…) E numa só Igreja Santa, Católica, e Apostólica”. Desta afirmação, quatro marcas tornam-se evidentes: Unidade, Santidade, Catolicidadee Apostolicidade.
A compreensão enfatizada pela Reforma quanto à igreja, é a de povo congregado por Deus por meio da Palavra, que se reúne para adorar ao seu Senhor em obediente alegria e gratidão. A pregação é que deve guiar os fiéis em sua adoração e em todas as facetas de sua vida
Portanto, o conceito material de templo, e de sua beleza, bem como no plano institucional, num primeiro momento, eram totalmente secundários.[3]
No culto a igreja se apresenta como resultado do chamado abençoador de Deus. O culto é sempre a resposta de um povo agradecido a Deus pela graça que o alcançou. Neste ato de resposta a igreja é alimentada e fortalecida por Deus por meio da Palavra e dos Sacramentos.
Maringá, 09 de agosto de 2021.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
[1] François Turretini, Compêndio de Teologia Apologética, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 3, p. 117. Esta conceituação assemelha-se ao que chamamos de “símbolo universal”. O símbolo universal é aquele em que há uma relação intrínseca entre o símbolo e aquilo que ele representa, podendo por isso, ser compartilhado com todos; desta forma, temos: O choro = tristeza; sorriso = alegria; fumaça = fogo; nuvem escura = chuva iminente; sol = vida; água = pureza, etc. É claro que alguns destes símbolos podem, eventualmente, representar uma imagem diversa: alguém chora de alegria; ri de nervosismo e tristeza; as águas sujas, indicando a poluição dos rios, etc., todavia, estas exceções não invalidam a universalidade destes símbolos, apenas a confirmam.
[2] O Credo Apostólico teve a sua primeira redação no 2º século, passando ao longo da história por alguns acréscimos, chegando à forma que temos hoje, por volta do sétimo século. A sua origem está tradicionalmente atribuída aos apóstolos. Essa lenda, bastante antiga, encontrou a sua forma mais famosa em Rufino (c. 404), que supõe que cada um dos apóstolos colaborou com uma cláusula em particular. (Ver: J.N.D. Kelly, Primitivos Credos Cristianos, Salamanca: Secretariado Trinitario, 1980, p. 15ss.; J. Ratzinger, Introdução ao Cristianismo, São Paulo: Herder, 1970, p. 17-18).
Pelo menos desde fim do século IV era amplamente aceita no Ocidente a tradição de que cada apóstolo, por inspiração divina, seria responsável pela elaboração de cada artigo do Credo. Esta lenda teve grande aceitação durante a Idade Média. Quanto às tradições referentes à composição do “Credo Apostólico”, Veja-se: J.N.D. Kelly, Primitivos Credos Cristianos, p. 15ss. Sobre os acréscimos ao Credo, Vejam-se: P. Schaff, The Creeds of Christendom, 6. ed. (Revised and Enlarged), Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1977, v. 1, p. 19-22; v. 2, 45-55; Reinhold Seeberg, Manual de História de las Doctrinas, El Paso, Texas; Buenos Aires; Santiago: Casa Bautista de Publicaciones; Junta Bautista de Publicaciones; Editorial “El Lucero”, (1963), v. 1, p. 93-94; O.G. Oliver, Jr., Credo dos Apóstolos: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, São Paulo: Vida Nova, 1988, v. 1, p. 362-363; K.S. Latourette, Historia del Cristianismo, 4. ed. Buenos Aires: Casa Bautista de Publicaciones, 1978, v. 1, p. 180-182; Henry Bettenson, Documentos da Igreja Cristã, São Paulo: ASTE., 1967, p. 54; Charles A. Briggs, Theological Symbolics, New York: Charles Scribners’s Sons, 1914, p. 40; Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática, São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 486ss.
A primeira contestação eficaz desta crença deu-se no Concílio de Ferrara-Florença-Roma (1438-1445) entre os representantes da Igreja Oriental e Ocidental. Posteriormente o humanista Lourenço Valla (c. 1407-1457) tornou-se um crítico veemente da suposta origem apostólica do Credo (Vejam-se: J.N.D. Kelly, Primitivos Credos Cristianos, Salamanca: Secretariado Trinitario, 1980, p. 15-21; J.N.D. Kelly, Doutrinas Centrais da Fé Cristã: Origem e Desenvolvimento, p. 32; J. Ratzinger, Introdução ao Cristianismo, São Paulo: Herder, 1970, p. 17-18; João Calvino, As Institutas, (1541), II.4; Herman Witsius, Sacred Dissertations on The Apostles’ Creeds, Escondido, California: The den Dulk Christian Foundation, 1993 (Reprinted), v. 1, p. 1-15; P. Schaff, The Creeds of Christendom, 6. ed. (Revised and Enlarged), Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1998 (Reprinted), v. 1, p. 14; R.P.C. Hanson, Confissões e Símbolos de Fé: In: Ângelo Di Berardino, org. Dicionário Patrístico e de Antiguidades Cristãs, Petrópolis, RJ.; São Paulo: Vozes; Paulinas, 2002, p. 322b; G.W. Bromiley, Credo, Credos: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, v. 1, p. 366; B. Altaner; A. Stuiber, Patrologia. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 1988, p. 95-97; Ulisses H. Simões, A Subscrição Confessional: necessidade, relevância e extensão, Belo Horizonte, MG.: Efrata Publicações e Distribuição, 2002, p. 37-39; Alan Richardson, Así se hicieron los Credos: Una breve introducción a la historia de la Doctrina Cristiana, Barcelona: Editorial CLIE, 1999, p. 20).
[3]Lutero (1483-1546), conforme já mencionamos, enfatizou que, “nem trabalho em pedra, nem boa construção, nem ouro, nem prata tornam uma igreja formosa e santa, mas a Palavra de Deus e a sã pregação. Pois onde é recomendada a bondade de Deus e revelada aos homens, e almas são encorajadas para que possam depender de Deus e chamar pelo Senhor em tempos de perigo, aí está verdadeiramente uma santa igreja” (Jaroslav Pelikan, ed. Luther’s Works, Saint Louis: Concordia Publishing House, 1960, v. 2, (Gn 13.4), p. 332). O eminente teólogo puritano John Owen (1616-1683) em um sermão, disse: “Quão pouco pensam os homens sobre Deus e seus caminhos, se imaginarem que um pouco de tinta e de verniz fazem uma beleza aceitável!” (John Owen, Sermon IV.In:The Works of John Owen,Carlisle, Pennsylvania: The Banner of Truth Trust, 1982,v. 9, p. 78). Veja-se João Calvino, As Institutas,Carta ao Rei Francisco I, p. 28. “Para mim sempre foi patético assistir a um culto nalguma grande igreja quando o que se busca é o efeito produzido por algum tipo particular de edifício” (D. Martyn Lloyd-Jones, A Vida de Paz, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2008, p. 31). É bastante ilustrativo o discurso de Lloyd-Jones por ocasião das comemorações dos 100 anos da Capela de Westminster em 1965. (Veja-se: D.M. Lloyd-Jones, Discernindo os tempos, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1994, p. 238-261).