A Pessoa e Obra do Espírito Santo (120)
6.2.7. Na sua ressurreição (Continuação)
Em alguns textos das Escrituras encontramos esta obra de modo distinto:
- Poder do Pai
“Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida” (Rm 6.4).
“Paulo, apóstolo, não da parte de homens, nem por intermédio de homem algum, mas por Jesus Cristo e por Deus Pai, que o ressuscitou dentre os mortos” (Gl 1.1).
- Poder do Espírito Santo
“Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus; morto, sim, na carne, mas vivificado no espírito” (1Pe 3.18/Rm 8.11).[1]
O mesmo Espírito que gerou em Maria à Pessoa Divino-Humana de Cristo, o acompanhando e fortalecendo em todo o Seu Ministério, agiu decisivamente em Sua ressurreição,[2] a qual assinala a vitória de Deus sobre o pecado, a morte e Satanás (Mt 1.18/Lc 1.35; Mt 4.1/Lc 4.1; Is 11.1-2/Lc 4.18-19; Lc 3.31-32; 4.14; Mt 12.28; Jo 3.34; Hb 9.14).
- Poder do Filho
18 Perguntaram-lhe, pois, os judeus: Que sinal nos mostras, para fazeres estas coisas? 19Jesus lhes respondeu: Destruí este santuário, e em três dias o reconstruirei. 20 Replicaram os judeus: Em quarenta e seis anos foi edificado este santuário, e tu, em três dias, o levantarás? 21 Ele, porém, se referia ao santuário do seu corpo. 22Quando, pois, Jesus ressuscitou dentre os mortos, lembraram-se os seus discípulos de que ele dissera isto; e creram na Escritura e na palavra de Jesus. (Jo 2.18-22).
17 Por isso, o Pai me ama, porque eu dou a minha vida para a reassumir. 18 Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la. Este mandato recebi de meu Pai. (Jo 10.17-18).
O verbo divino dispunha de todo o poder para ressuscitar o Cristo encarnado, o que realmente o fez.
Portanto, podemos entender biblicamente que a Trindade é responsável pela ressurreição de Jesus Cristo; o Pai, o Filho e o Espírito Santo manifestam o seu poder na ressurreição de Cristo. Por isso, o Novo Testamento com mais frequência atribui a ressurreição ao poder de Deus, sem mencionar a Pessoa (Ver: At 2.24; 3.15; 4.10; 5.30; 10.40; 13.30,37; Rm 10.9; 1Co 6.14; Cl 2.12, etc.).
Comentando Rm 8.11, Calvino explica:
Cristo certamente ressuscitou por si mesmo e pelo seu próprio poder, mas como costumava atribuir ao Pai o poder divino que possuía, então o apóstolo apropriadamente transferiu para o Pai aquilo que era em Cristo uma obra própria de sua divindade.[3]
Na ressurreição de Cristo, vemos aspectos de sua vitória. Os textos bíblicos referentes a Jesus Cristo como estando à direita de Deus, indicam o seu triunfo, honra, poder e glória. Por isso, Ele mesmo disse: “Ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu trono, assim como também eu venci, e me sentei com meu Pai no seu trono”(Ap 3.21).
O regresso de Jesus ao Pai evidencia a concretização completa de toda a obra a qual viera realizar.[4]
A ascensão do Filho ressalta o cumprimento de sua missão, revelando o seu estado de Glória (Mc 16.19; At 2.32-36; 7.55; Cl 3.1; 1Tm 3.16; Hb 1.1-4) e Poder (Ef 1.20,21; 1Pe 3.22).
Na realidade Jesus Cristo, retornou ao seu estado anterior à encarnação, quando Ele, espontaneamente renunciara a manifestação da glória e da dignidade divinas que faziam parte do seu ser (2Co 8.9; Fp 2.5-11/Jo 1.1-3; 17.1-5/Jo 3.13; 6.62; 7.33; 16.5/Ef 4.10).
Conforme já vimos, a sua humilhação e a sua exaltação não afetaram a essência da sua natureza Divina.
Vemos aqui, de passagem, a necessidade da ascensão: Aquele que veio num determinado momento histórico, no “estado de humilhação”, fazendo-se pobre (2Co 8.9); agora, após cumprir cabalmente a sua obra sacrificial, volta, no momento preciso, publicamente, no “estado de exaltação”, para Deus. A ascensão é uma das maiores evidências históricas da volta de Cristo ao seu estado de Glória (Jo 17.5,24).[5]
A ressurreição e ascensão de Cristo significam o poder de Deus sobre todos os demais poderes que lhe são hostis (Ef 1.21), indicando, também que tudo lhe pertence, no céu e na terra, na vida e na morte. Temos aqui a coroação pública de sua vitória. Ele é o Senhor de todas as coisas. “Por sua ascensão ao céu, Cristo tomou posse do domínio que lhe fora dado pelo Pai, para que ordenasse e governasse todas as coisas pelo exercício de seu poder”, conclui Calvino.[6]
Concluindo este capítulo, observamos mais uma veze, que o Ministério de Cristo foi caracterizado em todo o tempo, pela plenitude do Espírito (Jo 3.34/Lc 4.14).[7]
Maringá, 23 de fevereiro de 2021.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
[1]“Se habita em vós o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos vivificará também o vosso corpo mortal, por meio do seu Espírito, que em vós habita” (Rm 8.11).
[2] Veja-se: Francis Turretin, Institutes of Elenctic Theology, Phillipsburg, New Jersey: P & R Publishing, 1994, v. 2, VI.xvii, p. 316.
[3]João Calvino, Romanos, 2. ed. São Paulo: Parakletos, 2001, (Rm 8.11), p. 282.
[4]Veja-se: Herman Bavinck, Our Reasonable Faith, 4. ed. Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1984, p. 396.
[5]“5E, agora, glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo. (…) 24 Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que me deste, para que vejam a minha glória que me conferiste, porque me amaste antes da fundação do mundo” (Jo 17.5,24).
[6]João Calvino, Efésios,São Paulo: Paracletos, 1988, (Ef 4.10), p. 118.
[7]“Como o ouvido não pode ouvir sem som e o olho não pode ver sem luz, também a nossa natureza humana é incompleta sem a luz e a habilitação do Espírito Santo. Portanto, quando o Filho assumiu sua natureza humana, ele a tomou exatamente como ele é, isto é, incapaz de qualquer ato santo sem o poder do Espírito Santo. Então ele foi gerado pelo Espírito Santo para que, desde o começo, sua natureza humana fosse ricamente dotada com poderes. O Espírito Santo desenvolveu esses poderes e ele foi consagrado ao seu ofício pela comunicação à sua natureza humana dos dons messiânicos, pelos quais ele ainda intercede por nós como o nosso Sumo Sacerdote e governa sobre nós como nosso Rei. Por essa razão ele foi guiado, impelido, inspirado e apoiado pelo Espírito Santo em cada passo de seu ministério messiânico” (Abraham Kuyper, A Obra do Espírito Santo, São Paulo: Cultura Cristã, 2010,p. 133-134). Veja-se também: William Hendriksen, Comentário do Novo Testamento: Mateus 1, São Paulo: Cultura Cristã, 2001, (Mt 3.16), p. 303 (especialmente).