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A Pessoa e Obra do Espírito Santo (58) - Hermisten Maia

A Pessoa e Obra do Espírito Santo (58)

             4) Rei Eterno  (Continuação)

Na sua argumentação, Paulo toma um fato histórico no qual o poder de Deus se manifestou de forma cabal e gloriosa: na ressurreição do Senhor Jesus e na sua glorificação. Diz o apóstolo:

19E qual a suprema (u(perba/llw) grandeza (me/geqoj) do seu poder (du/namij) para com os que cremos (pisteu/w), segundo a eficácia (e)ne/rgeia) da força (kra/toj) do seu poder (i)sxu/j); 20o qual exerceu ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais, 21acima de todo principado, e potestade, e poder, e domínio, e de todo nome que se possa referir não só no presente século, mas também no vindouro. (Ef 1.19-21).

    Aos colossenses o apóstolo argumenta semelhantemente: “Tendo sido sepultados, juntamente com ele, no batismo, no qual igualmente fostes ressuscitados mediante a fé no poder (e)ne/rgeia) de Deus que o ressuscitou dentre os mortos” (Cl 2.12).

    O apóstolo se vale de seis termos que, associados, conferem um sentido por demais grandioso, ainda que limitado,  para descrever a supremacia gloriosa do poder de Deus. Assim, ele fala de:

    a) “Suprema” (u(perba/llw) (= “ir além”, “superar”)(19). De onde vem a nossa palavra hipérbole. Tanto o verbo como o substantivo (u(perbolh/) são empregados unicamente por Paulo no Novo Testamento. O verbo é traduzido por “sobre-excelente” (2Co 3.10); “superabundante” (2Co 9.14); “suprema” (Ef 1.19; 2.7); “que excede” (Ef 3.19). O substantivo, é traduzido por “sobremaneira” (Rm 7.13; Gl 1.13); “sobremodo excelente” (1Co 12.31); “excessivamente” (2Co 1.8); “excelência” (2Co 4.7); “acima de toda comparação” (2Co 4.17); “grandeza” (2Co 12.7).

    b) “Grandeza” (me/geqoj) (19). Só ocorre aqui. A palavra é empregada para descrever a grandeza física ou espiritual.[1]

    c) “Poder” (du/namij) (19). Possivelmente esta seja a palavra mais utilizada no Novo Testamento para descrever o poder de Deus.

    d) “Eficácia” (e)ne/rgeia) (19).[2] De onde vem a nossa palavra “energia”. A palavra aponta para uma ação eficaz em atividade com vistas à concretização de seu propósito.

    Este substantivo pode também ser traduzido por “força operante” (Ef 3.7); “cooperação” (Ef 4.16); “poder” (Cl 2.12); “operação” (2Ts 2.11).

   E)ne/rgeia e seus derivados, no NT, descrevem sempre um poder eficaz em atividade sobre-humana, por meio da qual a natureza de quem a exerce se revela.[3]

    e) “Força” (kra/toj) (19).[4] Este substantivo também pode ser traduzido por “Valorosamente” (Lc 1.51); “Poderosamente” (At 19.20); “Poder” (1Tm 6.16; Hb 2.14); “Domínio” (1Pe 4.11; 5.11; Ap 1.6; 5.13); “Império” (Jd 25). Aponta para o poder que alguém possui ou, que é decorrente da sua posição. Na LXX, na maioria das vezes a palavra está associada ao poder de Deus (Sl 62.11).

    f) “Poder” (i)sxu/j) (19).[5] Também é traduzido no Novo Testamento por “Força” (Mc 12.30.33; Lc 10.27; 1Pe 4.11; 2Pe 2.11; Ap 5.12; 7.12; 18.2).[6] Tem o sentido de “poder fazer algo”, “ter a capacidade de”, podendo ser aplicado à capacidade de exercer tal poder ou força.

    Em nenhum outro texto estas palavras ocorrem de forma associada como aqui. Paulo quer enfatizar de várias maneiras a supremacia de Deus sobre todas as coisas, envolvendo a ressurreição de Cristo, evidenciando também que Ele opera com todo seu poder, força, grandeza e eficácia em nossa vida, os que cremos.

O Rei eterno na ressurreição de Cristo valida o seu ministério.[7] “A ressurreição é a inversão divina da sentença que o mundo impôs a Jesus”, interpreta Bavinck.[8] Nela temos a manifestação pública de sua filiação divina e da aprovação de seu ministério.[9] Na ressurreição a sua glória se tornou publicamente manifesta. “A ressurreição é o ponto que marca o começo de uma nova época na existência do Filho de Deus. Sendo antes Filho de Deus em debilidade e humilhação, pela ressurreição torna-se o Filho de Deus em poder”, rejubila-se Nygren (1890-1978).[10]

    O Pai glorificou o Filho na ressurreição: “Assim, também Cristo a si mesmo não se glorificou para se tornar sumo sacerdote, mas o glorificou aquele que lhe disse: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei” (Hb 5.5).

    A ressurreição de Cristo é o coroamento do seu Ministério terreno. Ela é repleta de significado para o Ministério de Cristo e, consequentemente para a vida da Igreja, que é o seu Corpo.

    Sem a ressurreição, a obra de Cristo seria nula, a Igreja não existiria, não haveria salvação, estaríamos todos perdidos para sempre! “Mas de fato Cristo ressuscitou dentre os mortos”(1Co 15.20), é o brado de Paulo. E a Igreja exultante canta: Amém!

    Maringá, 26 de novembro de 2020.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]Cf. W. Grundmann, Me/gaj: In: G. Kittel; G. Friedrich, eds., Theological Dictionary of the New Testament,Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1983 (Reprinted), v. 4, p. 544.

[2] Fp 3.21; Cl 1.19; 2Ts 2.9.

[3]Veja-se: William Barclay, Palavras Chaves do Novo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1988, p. 51-57.

[4] Ef 1.19; 6.10; Cl 1.11.

[5] Ef 1.19; 6.10; 2Ts 1.9.

[6]Aqui temos uma variante textual.

[7]Veja-se: Alister E. McGrath, Paixão pela Verdade: a coerência intelectual do Evangelicalismo, São Paulo: Shedd Publicações, 2007, p. 25.

[8]Herman Bavinck, Teologia Sistemática,Santa Bárbara d’Oeste, SP.: SOCEP., 2001, p. 405.

[9] Veja-se: João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, v. 1, (Sl 2.7), p. 68-69. “Gerar [Sl 2.7], aqui, tem referência àquilo que foi feito conhecido. (…) Cristo foi declarado Filho de Deus pelo exercício público de um poder verdadeiramente celestial, ou, seja, o poder do Espírito, quando Ele ressuscitou dos mortos” (João Calvino, Romanos, 2. ed., São Paulo: Parakletos, 2001, (Rm 1.4), p. 39,40).

[10]Anders Nygren, Commentary on Romans, 5. ed. Philadelphia: Fortress Press, 1980, p. 51. “Por meio de sua gloriosa ressurreição, sua investidura com poder não só foi realçada, mas também começou a resplandecer em toda sua glória” (William Hendriksen, Romanos, São Paulo: Cultura Cristã, 2001, (Rm 1.4), p. 58-59).

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