Eu lhes tenho dado a tua Palavra (Jo 17.1-26) (105)
6.4. Universalidade da graça (Continuação)
A Igreja é católica porque a oferta de salvação é para todos em todas as épocas e lugares. Todos os seres humanos de todos os lugares que responderem com fé ao anúncio das Boas Novas de salvação serão salvos. A Igreja de Cristo congrega pessoas de todas as nações, de raças diferentes, de dialetos variados e condições sociais díspares. A insensibilidade para como esta missão nega a sua essência como igreja católica, não podendo ser mais considerada “universal”.
Com isto, não estamos querendo dizer que, para que a Igreja seja Católica, precise ter crentes de todas as regiões, antes, o que estamos afirmando, é que a oferta da graça salvadora anunciada pela Igreja, é para todos os homens. O alcance da graça salvadora de Cristo assinala a vitória de Cristo sobre todas as barreiras geográficas, culturais e temporais.
Paulo escreve aos gálatas:
Pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus; porque todos quantos fostes batizados em Cristo de Cristo vos revestistes. Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. (Gl 3.26-28). (Ver também: Ef 2.18; Cl 3.11).
Não há barreiras intransponíveis para a graça.
Shakespeare (1564-1616), na tragédia Romeu e Julieta,coloca nos lábios de Romeu, as seguintes palavras dirigidas à Julieta: “Os limites de pedra não servem de empecilho para o amor”.[1]
A Palavra de Deus nos mostra que o homem longe de Deus permanece morto espiritualmente, com um coração empedernido para as realidades espirituais. “A depravação do homem não regenerado é tanta, escreve Kuiper, que, embora não exista nada de que ele necessite mais do que o Evangelho, não há nada que ele queira menos”.[2] (Ef 2.1,5).
A Bíblia nos ensina também, que “Deus é sempre pleno de amor e vida”[3] e, que, com o seu gracioso poder, Ele transforma o coração[4] de pedra do homem – coração insensível ao Evangelho -, dando-lhe um coração de carne. Esta é a sua promessa:“Dar-vos-ei coração novo, e porei dentre em vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne. Porei dentro em vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis” (Ez 36.26,27).[5]
Deus, na plenitude do seu amor, ao longo da história tem vencido os corações de pedra, empedernidos pela incredulidade, concedendo um novo coração ao seu povo. Os corações de pedra não servem de obstáculo para o amor gracioso de Deus.
A Igreja, constituída por aqueles que já tiveram os seus corações transformados, anuncia o Evangelho, que é o poder transformador de Deus (Rm 1.16).
Por isso, o seu testemunho abrange a todos os homens (Mc 16.15/Rm 10.14):
a) Judeus, Gentios, Intelectuais ou não: (At 17.16-18/1Co 1.26-31).
b) Todas as Nações: (Mc 13.10; Rm 15.18-29/Mt 28.18-20; At 1.8).
c) Samaritanos: (= inimigos mortais) (At 8.5,14,25).
d) Pobres e Simples: (Mt 11.25; Lc 4.18).
e) Pessoas Influentes: (Gl 2.2).
Maringá, 20 de julho de 2020.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
[1] W. Shakespeare, Romeu e Julieta, São Paulo: Abril Cultural, 1978, II.2. p. 43.
[2] R.B. Kuiper, Evangelização Teocêntrica, p. 101.
[3]William Hendriksen, O Evangelho de João, São Paulo: Cultura Cristã, 2004 (Jo 3.16), p. 191.
[4] Lembremo-nos que, nas Escrituras, a palavra “coração” tem uma gama variada de significado, indicando, normalmente, a sede de nossos pensamentos, emoções e decisões. (Ver mais detalhes In: Hermisten M.P. Costa, O Pai Nosso: A Oração do Senhor,São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001).
[5] D.M. Lloyd Jones pregando na Epístola de Efésios, alude ao texto de Ezequiel e comenta: “O coração não é mais flexível, não é mais sensível, mas está endurecido e rijo; tornou-se como pedra; e a promessa do evangelho é: ‘tirarei o coração de pedra da vossa carne, e vos darei um coração de carne’, um coração capaz de sentir, um coração capaz de reagir, um coração flexível” (D. M. Lloyd-Jones, As Trevas e a Luz, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1995, p. 61).