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Eu lhes tenho dado a tua Palavra” (Jo 17.1-26) (67) - Hermisten Maia

Eu lhes tenho dado a tua Palavra” (Jo 17.1-26) (67)

5.8 A Santidade de Deus: reverência, confiança e santificação  (Continuação)

Sproul comenta sobre a idolatria:

Essa é a essência da idolatria: substituir a realidade por uma imitação. Distorcemos a verdade do Senhor e reconfiguramos nosso entendimento acerca dele de acordo com nossas próprias preferências, ficando com um Deus que é tudo, exceto santo.[1]

A santidade de Deus é perfeitamente bela em sua expressão.[2] A Escritura nos mostra que Deus como autor de toda beleza, aprecia o belo. A beleza não tem existência própria e autônoma. Ela provém de Deus, portanto, o perigo de fazermos a separação entre beleza e Deus, correndo o risco de adorar a criação em lugar do Criador (Rm 1.25),[3] perdendo a dimensão que por trás da criação há o Criador, para onde todas as coisas criadas deveriam apontar. O Deus quem nos criou à sua imagem é o Artista original. O nosso senso estético procede também de Deus, como por uma imagem.[4]

Nós, como imagem, tentamos imitá-lo de forma subjetiva, visto que somente Deus possui de forma absoluta a objetividade do Belo em suas perfeições.[5]

Maringá, 7 de junho de 2020.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]R.C. Sproul, A santidade de Deus, São Paulo: Cultura Cristã, 1997, p. 205. Em outro lugar: “A idolatria representa o insulto máximo a Deus. Reduzir Deus ao nível da criatura é despojá-lo de Sua divindade. Isto Lhe é particularmente odioso em face do fato de todos os homens terem recebido suficiente revelação sobre Ele para saber que não é uma criatura” (R.C. Sproul, Razão para crer, São Paulo: Mundo Cristão, 1986, p. 39).

[2]Quando historiadores da arte tratam da arte produzida pelos judeus, é comum a identificação da proibição divina quanto à idolatria (Êx 20.4-6) com uma suposta proibição divina à arte (Como por exemplo, Gombrich: “Na realidade, a Lei judaica proibiu a realização de imagens por temor à idolatria” (E.H. Gombrich, A História da Arte, 16. ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos Editora, 1999, p. 127). É possível que a falta de uma maior clareza de interpretação bíblica tenha contribuído para o não desenvolvimento de determinada manifestação artística entre os judeus. Dentro de uma perspectiva mais ampla, devemos entender que a arte na Escritura é proibida apenas como instrumento de idolatria, não como meio de glorificar a Deus por meio do belo: “O fato de que querubins foram bordados no véu interno do Tabernáculo (Êx 26.31), de que as paredes do Templo de Salomão foram esculpidas com figuras de querubins e palmeiras (1Rs 6.29), e de que Tabernáculo e Templo tinham figuras de querubins no propiciatório, dentro do Santos dos Santos, indica que o segundo mandamento não impediu a produção de trabalhos artísticos” (H.G. Stigers, Arte, Artes: In: Merrill C. Tenney, org. ger., Enciclopédia da Bíblia, São Paulo: Cultura Cristã, 2008, v. 1, p. 513). Na mesma linha escreveu Schaeffer: “A Bíblia não proíbe a confecção de arte figurativa e sim sua adoração. Só Deus deve ser adorado. Portanto, o mandamento não é contra a arte, mas contra a adoração a qualquer coisa além de Deus e, especificamente, contra a adoração à arte. Adorar a arte é um erro; produzi-la, não” (Francis A. Schaeffer, A Arte e a Bíblia, Viçosa, MG.: Editora Ultimato, 2010, p. 20). À frente: “Não é a existência da arte figurativa que é errada, mas o seu uso incorreto” (p. 30).

No Antigo Testamento, encontramos com frequência a ação do Espírito associada à vida intelectual de diversos homens (Vejam-se: Jó 32.8; 35.10,11/Gn 2.7; Êx 31.2-6; 35.31-35; Nm 11.17,25-29; 27.18-21/Dt 34.9). O Espírito é o autor de toda vida intelectual e artística. Nele temos o sentido do belo e sublime como expressão da santa harmonia procedente do Deus Triúno que é perfeitamente Belo em sua Santidade e Majestade. (Vejam-se: Sinclair B. Ferguson, O Espírito Santo, São Paulo: Os Puritanos, 2000, p. 26; C.G. Seerveld, Arte Cristã: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã,São Paulo: Vida Nova, 1988-1990, v. 1, p. 121).

[3]Veja-se: Henry R. Van Til, O Conceito Calvinista de Cultura, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 127-129.

[4]Veja-se: Abraham Kuyper, Sabedoria e prodígios: graça comum na ciência e na arte, Brasília, DF.: Monergismo, 2018, p. 139.

[5]“…. A beleza não é produto de nossa própria fantasia, nem de nossa percepção subjetiva, mas tem uma existência objetiva, sendo ela mesma a expressão de uma perfeição Divina” (Abraham Kuyper, Calvinismo, São Paulo: Cultura Cristã, 2002, p. 164). Vejam também: A. Kuyper, Sabedoria e prodígios: graça comum na ciência e na arte, Brasília, DF.: Monergismo, 2018, p. 121ss.; 137ss.; Gene Veith, Jr.,  State of the arts: From Bezalel to Mapplethorpe, Wheaton, Illinois: Crossway Books, 1991, p. 145-161. É sugestivo o tratamento dado à questão da imitação em Aristóteles, conforme pontua Gilson (E. Gilson, Introdução às artes do Belo – O que é filosofar sobre a arte? São Paulo: É Realizações, 2010, p. 85ss).

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