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Uma fé que investiga e uma ciência que crê (24) - Hermisten Maia

Uma fé que investiga e uma ciência que crê (24)

3) Preserva a Criação (Continuação)

Total dependência

Todos os homens por mais ricos que sejam, dependem, entre outras coisas, de solo, água, clima e saúde do corpo. Todos estão sujeitos ao estado geral da economia, juntamente com outros fatores sociais, políticos etc. Estes fatos indicam o quanto dependemos de Deus, o senhor do universo, daquele que tem o domínio sobre todas as coisas.

“Do alto de tua morada regas os montes; a terra farta-se do fruto de tuas obras. Fazes crescer a relva para os animais e as plantas para o serviço do homem, de sorte que da terra tire o seu pão”, diz o salmista (Sl 104.13-14).

Paulo dá uma interpretação teológica a esta manifestação provedora de Deus, dizendo: “Contudo não se deixou ficar sem testemunho de si mesmo, fazendo o bem dando-vos do céu chuvas e estações frutíferas, enchendo os vossos corações de fartura e de alegria” (At 14.17).

Dessa maneira, pedir a Deus que nos dê o pão significa recorrer à sua graça, para que nos sustente e não nos deixe perecer. Nesta oração, está implícita a certeza de que a vida pertence a Deus. O cientista pode fazer uma semente sintética, porém, ela não poderá crescer e frutificar, porque não tem vida. E mesmo que conseguisse, a origem da vida ainda estaria em Deus que lhe teria permitido chegar a esse invento condicionado ao poder do Criador.

Tudo que temos e somos provém dele, por isso a ele oramos: “o pão nosso de cada dia dá-nos hoje”.

Calvino (1509-1564), comentando essa passagem, escreveu:

Por esta petição nos entregamos a seu cuidado e nos confiamos à sua providência, para que nos dê alimento, sustente e preserve. Pois o Pai boníssimo não desdenha tomar sob sua proteção e guarda nem mesmo nosso corpo, para que a fé nos exercite nessas coisas diminutas, enquanto dele esperamos tudo, inclusive uma simples migalha de pão e uma gota de água.[1]  

Ordem na criação que reflete a Deus

Destaco outro aspecto. No Salmo 19 o salmista escreve:

2Um dia discursa a outro dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite. 3 Não há linguagem, nem há palavras, e deles não se ouve nenhum som; 4 no entanto, por toda a terra se faz ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo. Aí, pôs uma tenda para o sol, 5 o qual, como noivo que sai dos seus aposentos, se regozija como herói, a percorrer o seu caminho. 6 Principia numa extremidade dos céus, e até à outra vai o seu percurso; e nada refoge ao seu calor. (Sl 19.2-6).

O salmista ainda que não saiba explicar a ordem da Criação, sabe que o Deus Criador, o majestoso Senhor estabeleceu uma ordem que se sucede porque foi assim que Ele a fez e preserve continuamente. Deste modo o escritor sagrado pode falar da sucessão de dia e dia; noite e noite (v. 2) e o sol que, percebido fenomenologicamente, percorre um caminho pré-estabelecido de uma extremidade a outra do céu mantendo o seu calor: há um testemunho constante e permanente (vs. 4-6).[2]

A compreensão cristã de ordem na criação foi de fundamental importância para o desenvolvimento da ciência. Como sabemos, os pressupostos dos cientistas são de grande relevância na elaboração científica. Tentar negar a existência de pressupostos em nome de uma suposta “neutralidade” seria uma postura pueril e inútil.

Tornaremos a esse assunto mais à frente.

Todos os impérios estão sob o seu poder

Assim, não há poder nesse mundo que não esteja sob o controle de Deus. Todos os reinos e impérios estão sob à preservação e domínio de Deus: “O SENHOR frustra os desígnios (hc'[e) (etsah) das nações e anula os intentos  (hb’v’x]m;) (machashabah) dos povos” (Sl 33.10). Esse é o nosso Pai.

Maringá, 13 de abril de 2020

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]João Calvino, As Institutas, III.20.44.

[2] “O texto é claramente metafórico, e não mitológico: o sol não é uma divindade nem um espírito, mas é simplesmente comparado a alguém que mora em uma tenda. A literatura de Isaías também compara os céus a uma tenda (Is 40.22), uma vez mais enfatizando o poder de Deus, capaz de estender os céus como cortina” (Anthony Tomasino, Ohel: In: Willem A. VanGemeren, org., Novo Dicionário Internacional de Teologia e Exegese do Antigo Testamento, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 1, p. 293).

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