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“Eu lhes tenho dado a tua Palavra” (Jo 17.1-26) (2) - Hermisten Maia

“Eu lhes tenho dado a tua Palavra” (Jo 17.1-26) (2)

1. Testemunho Cristocêntrico (Jo 17.8,20)

1.1. Cristo como o cumprimento das promessas

“Porque eu lhes tenho transmitido as palavras que me deste”, relata em oração o Senhor Jesus Cristo. (Jo 17.8).

            O Evangelho não é uma invenção de Jesus Cristo, antes é a boa mensagem de Deus, declarando que em Cristo Jesus temos o cumprimento de suas promessas a Israel, e que o caminho da salvação foi aberto a todos os povos. “(Evangelho) é a solene publicação da graça revelada em Cristo”, resume Calvino (1509-1564).[1]

            Deste modo, o Evangelho não deve ser colocado em contraposição ao Antigo Testamento, como se o Deus do Antigo Testamento fosse outro Deus[2] ou que Deus mesmo tivesse alterado sua maneira de tratar com o homem, mas antes, é o cumprimento da sua promessa (Mt 11.2-5)[3].[4] O ponto central para compreensão da unidade do Evangelho está na atitude de Jesus Cristo que, na Sinagoga, ao ler a profecia de Isaías, identificou-se como O que fora prometido: Ele é o Messias. Registra Lucas:

Indo para Nazaré, onde fora criado, entrou, num sábado, na sinagoga, segundo o seu costume, e levantou-se para ler. Então, lhe deram o livro do profeta Isaías, e, abrindo o livro, achou o lugar onde estava escrito: O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar (Eu)aggeli/zw) os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor. Tendo fechado o livro, devolveu-o ao assistente e sentou-se; e todos na sinagoga tinham os olhos fitos nele. Então, passou Jesus a dizer-lhes: Hoje, se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir (Lc 4.16-21).

            Jesus Cristo é o cumprimento das promessas e profecias do Antigo Testamento, [5] sendo o Senhor e Mediador único e definitivo da Aliança selada entre Deus e o seu Povo.

Na encarnação temos uma prova definitiva de que Deus leva a séria as suas promessas e que nada poderá impedi-lo de concretizar o que se dispôs a fazer. Podemos descansar na certeza de que tudo o que diz, mesmo que aos nossos olhos passem séculos e séculos, Ele o fará.[6]

            De passagem, devemos dizer que o fato mais importante concernente à adoração no Novo Testamento é a centralidade de Jesus Cristo, Aquele que é o cumprimento das promessas e profecias do Antigo Testamento, sendo o Senhor e Mediador único e definitivo da Aliança selada entre Deus e o seu Povo. A visão desta Aliança é a chave que abre as portas para a compreensão de toda teologia bíblica. A Pessoa de Cristo é o elo que une os dois Testamentos.[7] Em suma, Jesus Cristo é o fundamento da verdadeira adoração a Deus.

Ele é o sujeito do Evangelho, o seu conteúdo e, ao mesmo tempo, o seu proclamador. Aprendemos a anunciar o Evangelho com o Senhor Jesus e, encontramos o significado de sua mensagem em sua encarnação, vida e obra.

            “Porque eu lhes tenho transmitido as palavras que me deste, e eles as receberam, e verdadeiramente conheceram que saí de ti, e creram que tu me enviaste” (Jo 17.8).

            Nós conhecemos a Palavra por meio de Cristo e a Palavra nos fala de Jesus Cristo. Jesus diz que manifestou a Palavra de Deus aos discípulos e eles a receberam, a guardaram e creram na procedência do Filho. A Palavra de Deus conduz o homem a crer na Pessoa e obra de Cristo: “Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra”   (Jo 17.20).

            O conhecimento mencionado no verso 8 envolve uma genuína experiência pessoal com Jesus Cristo, gerando forte confiança. Jesus Cristo testifica: “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim” (Jo 5.39). A mensagem da Bíblia é Cristocêntrica. Ela visa conduzir o homem a um encontro com Jesus Cristo e a sua obra.

Maringá, 28 de janeiro de 2020.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] João Calvino, O evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2015, v. 1, p. 26.

[2] Conforme sustentava Márcion ( c. 165). A respeito de seus ensinamentos, vejam-se, entre outros: Tertulian, The Five Books Against Marcion. In: Alexander Roberts; James Donaldson, eds. Ante-Nicene Fathers, 2. ed.Peabody, Massachusetts: Hendrickson Publishers, 1995, v. 3, p. 269-475; Irineu, Irineu de Lião, São Paulo: Paulus, 1995, I.27.2-4. p. 109-110; Justino de Roma, I Apologia, São Paulo: Paulus, 1995, 58, p. 73-74.

[3]“Quando João ouviu, no cárcere, falar das obras de Cristo, mandou por seus discípulos perguntar-lhe: És tu aquele que estava para vir ou havemos de esperar outro? E Jesus, respondendo, disse-lhes: Ide e anunciai a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres está sendo pregado o evangelho (eu)aggeli/zw) (Mt 11.2-5).

[4]Cf. R.H. Mounce, Evangelho: In: J.D. Douglas, ed. org. O Novo Dicionário da Bíblia, São Paulo: Junta Editorial Cristã, 1966, v. 1, p. 566.

[5]Ver: D.M. Lloyd-Jones, Deus o Pai, Deus o Filho,São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1997 (Grandes Doutrinas Bíblicas, v. 1), p. 317.

[6] Veja-se: D.M. Lloyd-Jones, Sermões Natalinos: Exposição do Magnificat, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2009, p. 78-79,82.

[7]Ver: Confissão de Westminster, VII.6.

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