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Rei e Pastor: O Senhor na visão e vivência dos salmistas (56) - Hermisten Maia

Rei e Pastor: O Senhor na visão e vivência dos salmistas (56)

2) A misericórdia de Deus

Se para recebermos o perdão é necessário que nos arrependamos e confessemos os nossos pecados (Pv 28.13; Mq 1.4; Mc 1.15; Lc 24.47; At 2.38; 5.31; Hb 6.1; Tg 5.16; 1Jo 1.9). Contudo, é necessário que se diga, que o arrependimento não nos dá o direito ao perdão. O arrependimento não é o gerador do perdão. Deus não é obrigado a nos perdoar. O arrependimento é condição essencial ao perdão, porém, insisto, não o torna obrigatório: Deus é soberano na concessão da sua misericórdia perdoadora. Misericórdia automerecida é uma contradição. Ele nos perdoa graciosamente, fundamentado nos merecimentos de Cristo Jesus.

            Deus nos perdoa não porque seja obrigado, mas, porque Ele é misericordioso.[1] Ele olha para o nosso estado de miséria espiritual e livremente se compadece de nós e nos alivia, nos perdoando os pecados, apagando toda a nossa iniquidade.

O salmista escreve:“Ele, porém, que é misericordioso, perdoa a iniquidade, e não destrói; antes muitas vezes desvia a sua ira, e não dá largas a toda a sua indignação”(Sl 78.38).

            Daniel em sua oração tem a mesma percepção:

Inclina, ó Deus meu, os teus ouvidos, e ouve; abre os teus olhos, e olha para a nossa desolação, e para a cidade que é chamada pelo  teu nome, porque não lançamos as nossas súplicas perante a tua face fiados em nossas justiças, mas em tuas muitas misericórdias. (Dn 9.18).

            Nos alegremos com o salmista:   “Pois tu, Senhor, és bom e compassivo (xl;s)’ (salach); abundante em benignidade para com todos os que te invocam” (Sl 86.5). Amém.

3) O amor de Deus

           Deus nos perdoa porque nos ama. O seu amor não encontra motivo em nós para amar. Todavia Deus que é amor, nos ama porque resolveu nos amar. Em outras palavras, como interpreta Calvino: “Deus jamais encontrará em nós algo digno de seu amor, senão que Ele nos ama porque é bondoso e misericordioso”.[2] (Jo 3.16; Rm 5.8; Cl 3.12-14).

            O perdão de Deus jamais poderá ser compreendido sem a consideração devida do seu amor eterno e imutável.[3] Jesus mesmo nos ensinou que“Aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama” (Lc 7.47). O seu perdão fundamenta-se no seu amor, que é soberanamente livre e invencível.

São Paulo, 23 de outubro de 2019.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] “A misericórdia não é um direito ao qual o homem faz jus. A misericórdia é aquele atributo adorável de Deus, pelo qual tem dó dos miseráveis e os alivia” (A.W. Pink, Deus é Soberano, p. 23).

[2]João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (Tt 3.4), p. 347.

[3]John Murray (1898-1974) observou acertadamente que, “nenhum estudo da expiação pode ser devidamente desenvolvido sem reconhecer em primeiro lugar o livre e soberano amor de Deus (…). Este amor é a causa ou a fonte da expiação” (John Murray, Redenção: Consumada e Aplicada, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1993, p. 11, 13).

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