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Rei e Pastor: O Senhor na visão e vivência dos salmistas (50) - Hermisten Maia

Rei e Pastor: O Senhor na visão e vivência dos salmistas (50)

Analisemos agora alguns aspectos do perdão concedido por Deus e de sua necessidade.

A. A gravidade do pecado e a necessidade de perdão

                        O pecado consiste na falta de conformidade com a lei de Deus. Por isso a sua culpa.[1] Independentemente da consequências diretas do pecado, ele sempre traz culpa, ainda que o homem dominado por suas paixões tente eliminar esse sintoma que lhe parece misterioso, mas, sabemos, que é resultante do fato de que Deus criou o homem para se relacionar com Ele.

O pecado sempre envolve a transgressão de algum mandamento divino. Por isso, inclusive, que todo pecado é primeiramente contra Deus. É impossível pecar contra nós mesmos, nosso próximo, a natureza e à sociedade em geral, sem pecarmos contra Deus. Os mandamentos de Deus abrangem toda a realidade e relações justamente porque Ele é o senhor de tudo e, cuida pessoalmente de sua criação. O seu propósito é que a sua imagem refletida no homem se  concretize em todas as suas obras.

Pecado é uma falsidade ideológica de nossa natureza essencial, já que fomos criados para glorificar a Deus em nossa alegre e prazerosa obediência. Como imagem, deveríamos refletir em nossa vida e comportamento aspectos da gloriosa beleza de Deus. A santidade proposta por Deus para seus filhos consiste na harmonia de sua vida e ação com a beleza da santidade eterna de Deus expressa na Sua revelação e, perfeitamente, em Jesus Cristo. No entanto, o pecado nos descaracterizou.

            Para um tratamento adequado que qualquer problema, necessitamos de um diagnóstico correto. Porém, mesmo tendo esse diagnóstico seguro, podemos nos aventurar em fórmulas mágicas que para nada mais servem, senão para agravar a nossa dor e desilusão.

            Também podemos, de posse de uma análise correta do problema, perceber que não temos acesso ao remédio. Ele pode ser inacessível porque, por exemplo, é muito caro, não é conhecido ou mesmo permitido onde estamos.

            Outro trágico caminho que podemos seguir é simplesmente nos negar a adotar o caminho proposto por simples e total falta de fé.

            Seja em que condições for, estaremos fadados aos efeitos da não correção do problema.

A Palavra nos dá o diagnóstico correto

            A Palavra de Deus nos apresenta o diagnóstico completo, perfeito e exaustivo da situação humana e, também, apresenta o remédio definitivo para nos curar: A expiação de nossos pecados em Cristo Jesus.

Por isso é que sem a consciência do pecado não há Evangelho. Somente o Evangelho trata o pecado com seriedade.[2] Isso porque Deus leva a sério a condição de suas criaturas em suas misérias espirituais.

Lei é Evangelho

A Lei é o Evangelho ainda que não em sua plenitude. Contudo, sem a Lei não há consciência do pecado e, por isso mesmo, a convicção da necessidade de salvação.

A Boa Nova de salvação engloba o pecado, as suas consequências e a libertação de suas mazelas pela graça de Deus. Por isso é que podemos dizer que a Lei é graça.

            A Lei de Deus revela o nosso pecado, evidenciando a sua gravidade[3] e, nos aponta o caminho proposto por Deus. Assim, a Lei deve ser pregada a todos, a crentes e descrentes.[4]

A lei moral permanece, como escreve Calvino:

A lei moral de Deus é a verdadeira e perpétua regra de justiça, ordenada a todos os homens, de todo e qualquer país e de toda e qualquer época em que vivam, se é que pretendem reger a sua vida segundo a vontade dele. Porque esta é a vontade eterna e imutável de Deus: que ele seja honrado por todos nós, e que todos nós nos amemos uns aos outros.[5]

         A Lei, portanto, nos conduz à graça que brilha de forma magnífica na face de Cristo (Gl 3.24).[6] Portanto, jamais poderemos separar a Lei do Evangelho sem perdermos a dimensão abrangente do propósito salvífico de Deus.[7]

Maringá, 11 de outubro de 2019.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] Veja-se: Catecismo Maior de Westminster, Pergunta 24.

[2]Veja-se: J. Gresham Machen, Cristianismo e Liberalismo, São Paulo: Os Puritanos, 2001, p. 69ss.

[3] Veja-se: João Calvino, As Institutas, II.7.6.

[4] Veja-se: Fórmula de Concórdia, Epítome VI.2-3: In: Livro de Concórdia, 7. ed. (rev. Atual.), São Leopoldo, RS.; Canoas, RS.; Porto Alegre: Editora Concórdia; Editora Sinodal; Editora da Ulbra, 2016, p. 517.

[5]João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 4, (IV.16), p. 160.

[6] Veja-se: João Calvino, As Institutas, II.7.8.

[7] “O Evangelho e a Lei não devem ser separados, constituem uma única entidade no interior da qual o Evangelho é a coisa primordial e a Lei permanece contida na Boa Nova” (Karl Barth, Esboço de uma Dogmática, São Paulo: Fonte Editorial, 2006, p. 22).

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