Diáconos e Presbíteros: Servos de Deus no Corpo de Cristo (49)
6. Recompensas de uma diaconia fiel
6.1. A honra concedida por Deus
“Se alguém me serve, siga-me, e, onde eu estou, ali estará também o meu servo (dia/konoj). E, se alguém me servir (diakone/w), o Pai o honrará (tima/w)” (Jo 12.26).
Jesus ensina que aqueles que o servem sinceramente, o seguindo, o Pai mesmo o honrará. Ainda que aqui não esteja falando especificamente do ofício de diácono, a verdade é que este, como todos aqueles que servem ao Senhor – a palavra no Original é a mesma (diakone/w) – ainda que nem sempre tenham o reconhecimento devido da parte dos homens, serão honrados por Deus. Obviamente, não devemos encontrar no texto nenhuma desculpa para a nossa falta de reconhecimento do serviço prestado pelos servos de Deus, antes, um consolo para aqueles que não têm sido honrados devidamente por nós.
6.2. A lembrança graciosa de Deus
“Porque Deus não é injusto para ficar esquecido (e)pilanqa/nomai) do vosso trabalho e do amor que evidenciastes para com o seu nome, pois servistes (diakone/w) e ainda servis (diakone/w) aos santos” (Hb 6.10).
Esta recompensa complementa a anterior. Deus não se esquece; não é negligente para com as necessidades de seus servos. Ele tem diante de si os nossos serviços, ainda que estes sejam devidos à sua graça capacitante. Mesmo parecendo em algumas circunstâncias ter se esquecido de nós, na realidade, Ele nos acompanha sempre com a sua graça. E, Aquele que nos capacitou a fazer boas obras, por graça, nos recompensará. Não haveria nada de pior para nós do que ser esquecido por Deus. No entanto, a sua lembrança é mantenedora,[1] confortadora e abençoadora.
Diáconos são os que servem. Lembrem-se sempre de que Deus estará continuamente pronto a atendê-los em suas necessidades. Os diáconos, portanto, são aqueles que, por vezes se esquecendo de si mesmos, servem à igreja, enquanto que Deus mesmo, o Senhor da Igreja, não se esquece de suas necessidades, muitas delas ainda imperceptíveis.
Conforme figura usada pelo salmista. É muito reconfortador saber que as pegadas de Deus são abençoadoras em nossa vida.[2] “As pegadas são as de um veículo para carregar produtos agrícolas; trata-se de uma figura poética para representar a ação de Deus em derramar as chuvas serôdias enquanto passa, deixando a abundância pelo caminho”.[3]
Em uma terra aparentemente árida, como pode estar circunstancialmente o nosso coração, Deus nos promete a sua lembrança sempre abençoadora e preservadora.
Os diáconos, que com o seu planejamento e sensibilidade ajudaram a tantos irmãos, por vezes se sentem abatidos. Esses servos, com os quais os irmãos menos favorecidos ou em situação circunstancial de penúria resultante de doenças na família, prolongado desemprego etc., sempre puderam contar com a sua memória abençoadora e discrição, agora têm o conforto do próprio Deus que jamais serão esquecidos pelo Senhor da igreja que os vocacionou e capacitou.
Obviamente a promessa de Deus não se restringe aos diáconos, mas, a todos aqueles que servem a Deus com integridade de coração. Os diáconos se constituem em uma forma ordinária de Deus suprir às necessidades de seus servos em suas carências preponderantemente materiais. Eles, como muita frequência são a expressão concreta e visível da providência misericordiosa de Deus no suprimento dos irmãos necessitados.
Nesse caso, a lembrança de Deus consiste em uma manifestação de seu favor àqueles que por vezes parecerem terem sido esquecidos.
6.3. O reconhecimento da Igreja
“Pois os que desempenharem bem o diaconato alcançam para si mesmos justa preeminência (* baqtmo/j = degrau, fundamento, posição, reputação) e muita intrepidez na fé em Cristo Jesus” (1Tm 3.13).
A Igreja por vezes no justo receio de “endeusar” homens, criando monstrinhos espirituais, cheios de si com mania de grandeza e autossuficiência, comete um equívoco oposto, se esquecendo de atribuir honra a quem de direito. Não podemos justificar uma tese apenas apresentando a antítese. Possivelmente entre ambas, podem existir caminhos alternativos que não sejam mal em si.
Pedro instrui a igreja: “Tratai todos com honra (tima/w), amai os irmãos, temei a Deus, honrai (tima/w) o rei” (1Pe 2.17). Paulo recomenda aos romanos: “Pagai (a)podi/dwmi = retribuir, conceder, dar) a todos o que lhes é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem respeito, respeito; a quem honra (timh/), honra (timh/)” (Rm 13.7).
Paulo na ilha de Malta depois de curar o pai de um importante habitante da ilha que o hospedara, realizou muitas outras curas (At 28-7-9). Tais homens, registra Lucas, “…. nos distinguiram (timh/) (honrar, valorizar, dignificar, retribuir) com muitas honrarias (tima/w); e, tendo nós de prosseguir viagem, nos puseram a bordo tudo o que era necessário” (At 28.10).
Paulo diz que aqueles que desempenharem bem o diaconato terão o justo reconhecimento da Igreja. De fato, é justo que assim seja. Ainda que os diáconos não trabalhem simplesmente para agradar a Igreja, visto que servem ao Senhor na Igreja, é desejável que honremos esses servos de Deus que dedicam parte quantitativa e qualitativamente importante de seu tempo no serviço de Deus em nossa Igreja. O reconhecimento da Igreja é um atestado da sua vocação e do desempenho eficiente do diaconato.
Portanto, diáconos, não busquem honrarias e deferências. Igreja honre os seus diáconos. Eles foram chamados por Deus para exercerem o seu ofício no meio de sua comunidade. Eles tiveram o seu reconhecimento público por meio da assembleia para desempenharem a sua vocação: honrem-nos!
O nosso serviço é prestado a Deus; a origem de nossa vocação está em Deus. Em última instância é Deus quem avaliará o nosso serviço prestado com integridade ao povo que Ele mesmo nos confiou servir.
Calvino comenta: “Ao expressar-se assim, ele realça quão proveitoso é para a Igreja que esse ofício seja desempenhado por homens criteriosamente escolhidos, pois o santo desempenho desses deveres granjeia estima e reverência”.[4]
Quando a Igreja não honra os diáconos que desempenham bem a sua função está furtando destes servos de Deus a honra, o justo reconhecimento que lhe é devido. Devemos isto a eles! É preciso que estejamos atentos para não cometermos este pecado de omissão. A quem honra, honra!
6.4. Maior firmeza na fé
“Pois os que desempenharem bem o diaconato alcançam para si mesmos justa preeminência e muita intrepidez na fé em Cristo Jesus” (1Tm 3.13).
Paulo também diz que aqueles que desempenham bem o diaconato alcançam “muita intrepidez (parrhsi/a) na fé em Cristo” (1Tm 3.13). A palavra tem o sentido de destemor, franqueza, ousadia, confiança e sinceridade. O termo indica aquele que fala com ousadia e francamente, exercendo com responsabilidade publicamente a sua função.
Os diáconos no exercício de seu ofício adquirem uma maior ousadia em sua fé amparados na graça de Deus. Isso se manifesta na sua justa confiança em aproximar-se de Deus em oração (Ef 3.12; Hb 4.16; 10.19; 1Jo 5.14) e, ao mesmo tempo, na sua intrepidez para falar livre, confiada e ousadamente de Cristo (At 2.29; 4.13,29,31; 9.27,28; 13.46; 14.3; 18.26; 19.8; 28.31; 2Co 3.12; Ef 6.19; 1Ts 2.2). Lembremo-nos, no entanto, que essa intrepidez é obra do Espírito Santo (At 4.13,29,31/1Ts 2.2).
Calvino, por sua vez, analisa a contrapartida dessa fidelidade, dizendo:
Da mesma forma, aqueles que têm fracassado em seus deveres têm também sua boca fechada e suas mãos atadas, e são incapazes de fazer tudo satisfatoriamente, de modo a não ser possível injetar-lhes qualquer confiança, nem tampouco outorgar-lhes qualquer autoridade.[5]
O diácono, como não poderia deixar de ser, no fiel exercício de seu ofício, amadurece em sua fé, tendo maior comunhão com Deus e segurança na proclamação do Evangelho. É praticamente impossível desenvolver qualquer trabalho da igreja de forma eficiente sem, ao mesmo tempo, amadurecer em nossa fé. O diácono no exercício de seu ofício, descobre de forma gradativa e intensiva o quanto depende da misericórdia divina. O fundamento desta firme ousadia é a fé, que é originária de Deus e nele, somente nele dever ser depositada.
Maringá, 22 de agosto de 2019.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
[1] “Não se vendem cinco pardais por dois asses? Entretanto, nenhum deles está em esquecimento (e)pilanqa/nomai) diante de Deus” (Lc 12.6).
[2] Sl 65.11.
[3] Derek Kidner, Salmos 1-72: introdução e comentário, São Paulo: Mundo Cristão/Vida Nova, 1980, v. 1, (Sl 65.11), p. 254.
[4]João Calvino, As Pastorais, (1Tm 3.13), p. 95.
[5]João Calvino, As Pastorais, (1Tm 3.13), p. 95.
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