Diáconos e Presbíteros: Servos de Deus no Corpo de Cristo (31)
Como há outras vozes querendo nos afastar da verdade, apresentando um caminho que, à primeira vista, pode nos parecer mais convidativo e tentador, devemos perseverar no caminho verdadeiro.
Paulo recrimina o esmorecimento dos gálatas que começando a crer corretamente na graça de Deus, agora, passam a viver, como se fosse possível, pelas obras. O legalismo judaico se constituía num impedimento aos judeus cristãos: “Vós corríeis bem; quem vos impediu (e)gko/ptw)[1] de continuardes a obedecer à verdade?” (Gl 5.7). Este impedimento pode ser proveniente do diabo por meio de seus agentes (1Ts 2.14-18) ou do próprio coração humano, onde reside a raiz de nossos pecados.[2]
Falsos mestres privados da verdade
Os falsos mestres, privados da verdade,[3] procuram desviar-nos dela pervertendo os ensinamentos da Palavra. Paulo cita dois falsos mestres de seu tempo, Himeneu[4] e Fileto, que, seguindo ensinamentos gnósticos, com uma linguagem corrosiva, eliminavam a esperança na ressurreição futura, pervertendo a fé de alguns:
Além disso, a linguagem deles corrói como câncer (ga/ggraina);[5] entre os quais se incluem Himeneu e Fileto. Estes se desviaram da verdade (a)lh/qeia), asseverando que a ressurreição já se realizou, e estão pervertendo (a)natre/pw = “arruinar”, “virar”[6]) a fé a alguns. (2Tm 2.17-18).
O contágio da falsa doutrina
A falsa doutrina é contagiante. Paulo exorta a Tito com veemência a respeito dos insubordinados, especialmente judeus: “É preciso fazê-los calar, porque andam pervertendo (a)natre/pw) casas inteiras, ensinando o que não devem, por torpe ganância” (Tt 1.11).
Por causa dos falsos mestres o caminho da verdade será infamado.
Assim como, no meio do povo, surgiram falsos profetas (yeudoprofh/thj),[7] assim também haverá entre vós falsos mestres (yeudodida/skaloj), os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras, até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição. E muitos seguirão as suas práticas libertinas (a)se/lgeia), e, por causa deles, será infamado (blasfhme/w)[8] o caminho da verdade. (2Pe 2.1-2).
Pedro diz que o presbítero, enquanto pastor do rebanho, deve estar em condições de alimentá-lo com a Palavra e, também, saber combater àqueles que tentarão seduzir os fiéis com “palavras fictícias (plasto/j)” (2Pe 2.3).
O falso mestre é aquele que ensina a mentira, o engano: cria imagens que nada são para corromper seus ouvintes, conduzindo-os a negar o próprio Senhor Jesus Cristo e, também, à viverem libertinamente (a)se/lgeia), ou seja, de modo dissoluto e lascivo.[9]
Por causa disso, o caminho do evangelho seria caluniado, reprovado, “blasfemado”. A mensagem desses falsos mestres consiste numa corrupção do evangelho. Plasto/j parece ter o sentido aqui de palavras artisticamente elaboradas, moldadas, sugestivas, porém, falsas, forjadas em seu próprio proveito, e, que por isso mesmo estão em oposição à verdade. Curiosamente este é o termo de onde vem a nossa palavra “plástico”.[10] O ensino cristão envolve arte, mas não “arte plástica” para com a verdade.
Treinar nossos ouvidos
Nós cristãos, precisamos treinar os nossos ouvidos a fim de não sermos conduzidos ingenuamente por ensinos que mesmo falando o nome de Deus e citando as Escrituras, neguem o Deus das Escrituras: “Porque o ouvido prova (!x;B’)(bahan) (examina, testa) as palavras, como o paladar, a comida” (Jó 34.3/Jo 12.11).
Maringá, 7 de julho de 2019.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
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[1]No seu emprego militar esta palavra tinha o sentido de cortar uma árvore para causar um impedimento ou, abrir uma vala que obstaculizasse temporariamente o caminho do inimigo, daí a palavra tomar o sentido de “impedimento”, “empecilho”, “obstáculo”, “cansar”, “sobrecarregar”. (Vejam-se: G. Stählin, Kopeto/j, etc.: In: G. Kittel, ed., Theological Dictionary of the New Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1981 (Reprinted), v. 3, p. 855-860; C.H. Peisker, Impedir: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1981-1983, v. 2, p. 417-418; William F. Arndt; F.W. Gingrich, A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature, Chicago: University Press, 1957, p. 215; F.F. Bruce, Hechos de los Apóstoles: Introducción, comentarios y notas, Michigan: Libros Desafío, 2007, (At 24.4), p. 513-514).
[2]Cf. G. Stählin, Kopeto/j, etc.: In: G. Kittel, ed. Theological Dictionary of the New Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1982 (Reprinted), v. 3, p. 856-857.
[3]“Altercações sem fim, por homens cuja mente é pervertida e privados da verdade (a)lh/qeia), supondo que a piedade é fonte de lucro” (1Tm 6.5).
[4] Paulo se referira a este como que alguém que naufragou na fé (1Tm 1.19-20).
[5]Esta palavra só ocorre aqui em todo o Novo Testamento. É deste termo que provém palavra gangrena.
[6] A palavra é usada no sentido literal Jo 2.15: “Em tendo feito um azorrague de cordas, expulsou todos do templo, bem como as ovelhas e os bois, derramou pelo chão o dinheiro dos cambistas, virou (a)natre/pw) as mesas”.
[7] Jesus Cristo já nos alertara sobre eles. Vejam-se: Mt 7.15; 24.11,24; Lc 6.26. O apóstolo João falaria mais tarde de sua realidade presente (1Jo 4.1).
[8] O verbo Blasfhme/w, que tem o sentido de “injuriar”, “difamar”, “insultar”, “caluniar”, “maldizer”, “falar mal”, “falar para danificar”, etc., é formado de duas palavras, Bla/yij derivada de Bla/ptw = “injuriar”, “prejudicar” (* Mc 16.18; Lc 4.35) e Fhmi/ = “falar”, “afirmar”, “anunciar”, “contar”, “dar a entender”. A Blasfêmia tem sempre uma conotação negativa, de “maldizer”, “caluniar”, “causar má reputação”, etc., contrastando com Eu)fhmi/a (“boa fama” * 2Co 6.8) e Eu)/fhmoj (“boa fama” * Fp 4.8) (Eu)/ & fh/mh). No Fragmento 177 de Demócrito, lemos: “Nem a nobre palavra encobre a má ação, nem é a boa ação prejudicada pela má palavra (Blasfhmi/a)”. Paulo diz que o mal testemunho dos judeus contribuía para que os gentios blasfemassem o nome de Deus (Rm 2.24, citando Is 52.5). Compare este fato com a orientação de Paulo, 1Tm 6.1; Tt 2.5.
A falsa doutrina propicia a prática da blasfêmia (1Tm 6.3,4), bem como os falsos mestres (2Pe 2.1-2,10-12).
[9]A)se/lgeia ocorre nos seguintes textos do Novo Testamento: Mc 7.22; Rm 13.13; 2Co 12.21; Gl 5.19; Ef 4.19; 1Pe 4.3; 2Pe 2.2,7,18; Jd 4.
[10]A palavra grega plastiko/j é derivada do verbo pla/ssw, cujo advérbio utilizado por Pedro é plasto/j. A nossa palavra plástico vem do grego (plastiko/j) passando pelo latim (plasticus), sempre de forma transliterada, significando aquilo “que tem propriedade de adquirir determinadas formas sensíveis, por efeito de uma ação exterior”.
Como os Gálatas, ás vezes esmorecemos, mas o Espirito Santo nos desanima de desanimar.